FMS e FME realizam o 17ª Seminário da ReduSaids
A Fundação Municipal de Saúde (FMS), em parceria com a Fundação Municipal de Educação (FME), realizou na quinta-feira (05/12), no auditório da Escola de Serviço Social da UFF, Bloco E, Campus do Gragoatá, o 17º Seminário da ReduSaids, a rede de Saúde e Educação para prevenção da Aids. Cerca de 100 pessoas, em sua maioria profissionais de saúde, participaram do evento, que também recebeu representantes da Secretaria de Estado de Saúde, do Centro LGBTI, bem como alunos e professores.
O evento é parte integrante da programação comemorativa do Dia Mundial de Luta contra Aids, festejado em todo mundo dia 1º deste mês, e pelo chamado Dezembro Vermelho. Coordenado pelo Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs/Aids), da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covig), o seminário teve como tema principal: ”Dimensões Sociais da Prevenção e Cuidado das IST/HIV/HV: Limites e Possibilidades em Tempos de Prevenção Biomédica”.
Na primeira palestra, o coordenador de Promoção em Saúde e Prevenção da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Juan Carlos Raxach, abordou o tema principal do evento: “As Dimensões Sociais dos Cuidados”. Segundo ele, há uma “epidemia do descaso”, que que promove limites e retrocessos deixando 360 pessoas soropositivas fora de qualquer tipo de atendimento.
“Na conjuntura atual, como fazer prevenção sem falar das questões de gênero? O estigma da doença, a violência e o preconceito levam a pessoa a não querer se tratar no seu território. E essa doença necessita total adesão e vinculação do paciente ao tratamento”, comentou Juan Carlos.
Após curto debate, aconteceu a segunda palestra do dia. O infectologista Márcio Figueiredo Fernandes, da UFRJ, falou sobre “Redes Sociais, Novas Formas de Relacionamentos e a Vulnerabilidade às Infecções Sexualmente Transmissíveis”. De acordo com o especialista, na era da internet dois segmentos sociais estão na mira do HIV: os idosos e os jovens.
“Entre os anos de 2008 a 2018, os casos de Aids entre os jovens brasileiros na faixa etária dos 15 aos 24 anos sofreu um aumento de 700%”, enfatizou Fernandes.
Ainda segundo o pesquisador, até bem pouco tempo atrás o poder público podia intervir e atender mais rapidamente o público gay, com distribuição de preservativos e material educativo em boates, saunas, parques ou festas, mas com o advento da internet e da criação de aplicativos específicos para este fim, o acesso ao público LGBTI se tornou mais difícil.
“Jovens soropositivos, ou não, que fazem sexo com outros homens agendam seus encontros por meio dos smartphones, o que possibilita uma linguagem mais direta e sem rodeios, mas esse comportamento impede que as ações de prevenção sejam mais efetivas”, comentou o infectologista.
Outro fator preocupante, de acordo com Márcio Fernandes, são as comunidades “Chem Sex”, grupos que se reúnem para a prática de sexo com drogas, o que ele chamou de “sexualizáveis”, como Viagra, Cialis, entre outras, que aumentam a performance sexual dos indivíduos, em atividades grupais extensas. Além, também, das substâncias ilícitas como o GHB, a “droga do estupro”, conhecido “Boa Noite, Cinderela”, além da cocaína, exctasy, mefedrona e metanfetamína.
De acordo com Fábia Oliveira, do setor de ISTs/Aids da Covig, há 11 Serviços de Assistência Especializada em HIV/Aids funcionando em Niterói. Os SAEs estão localizados nas policlínicas regionais de Itaipu; Sérgio Arouca, em Santa Rosa; Carlos Antônio da Silva, em São Lourenço; Renato Silva, na Engenhoca; Largo da Batalha, João Vizela, no Barreto; Guilherme Taylor March, no Fonseca; além da Policlínica de Especialidades em Saúde da Mulher Malu Sampaio, no Centro; bem como nos Hospitais Municipal Carlos Tortelly (HMCT), no Bairro de Fátima; Estadual Azevedo Lima (HEAL), no Fonseca, e no Universitário Antônio Pedro (HUAP), no Centro.
"Além disso, temos os serviços que realizam testa rápido para hepatites B e C e sífilis, em Niterói. No total somam 44 módulos do Programa Médico de Família, hospitais Orêncio de Freitas (HOF), no Barreto, e Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ), Maternidade Municipal Alzira Reis, em Charitas, Unidade de Urgência Mário Monteiro (UMAM), Laboratório Miguelote Viana, unidades básicas de saúde da Engenhoca e do Morro do Estado, bem como a Policlínica Regional de Piraatininga
Após a pausa para o almoço, o evento seguiu com uma apresentação em teatro sobre o tema do grupo Pirei a Cenna do HPJ, que pertence a escola do Teatro do Oprimido e realiza performances com os usuários da Saúde Mental. De volta às discussões, o seminário contou com palestra sobre o cuidado com os pacientes transexuais e travestis nas unidades de saúde. A professora de Saúde Coletiva da UFF, Sandra Brignol trouxe a questão dos estigmas e vulnerabilidades desta população para ser atendida nas unidades de saúde.
"Quantos aqui sabem e respeitam o nome social do paciente? Estamos falando de uma população em que o gênero biológico em que nasceram não correspondem com o gênero que se identificam", afirmou. Segundo ela, enquanto os dados oficiais apontam 0,4% da população brasileira diagnosticada com o vírus do HIV, na população de trans e travestis esse percentual chega a 54%.
"São tantas barreiras que essa população deve ultrapassar, como problemas familiares, situações de violência, escolaridade baixa e prostituição induzida, que o mínimo que ela deve ter quando chega na unidade de saúde, é respeito e acolhimento adequado. Temos manuais, portarias e normas que asseguram seus direitos e que devem ser seguidos", declarou ao relatar as dificuldades de prevenção e do acesso à saúde. É prudente ressaltar que desde 2018 Niterói conta com um ambulatório para essa população situado na Policlínica Sylvio Picanço no Centro.
A última exposição foi guiada por Marcia Rachid, consultora de ISTs da Secretaria Estadual de Saúde e do Ministério da Saúde e uma das fundadoras do Grupo Pela Vidda, que completou 30 anos no auxílio às pessoas com HIV/Aids. Marcia trouxe o histórico e como funciona a prevenção pré e pós exposição sexual e do tratamento com antirretrovirais que permite que a carga viral fique indetectável.
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma estratégia de prevenção que consiste no uso diário de um medicamento que funciona como uma “barreira química” contra o vírus. A PrEP faz parte da estratégia combinada, ou seja, quem a adota não deveria abrir mão do uso de preservativos, já que também é a única barreira contra as outras doenças sexualmente transmissíveis. Já a PEP, Profilaxia Pós-Exposição de Risco, são dois comprimidos que devem ser tomados por 28 dias, com a primeiro dose depois de até 72 horas da relação sexual sem preservativo. O Brasil foi pioneiro na América Latina em usar esses procedimentos.
Caso o teste para o HIV seja positivo, as unidades de saúde fornecem a medicação antirretroviral que tornam a carga viral indetectável, impedindo a progressão da deficiência imunológica e da manifestação da Aids. "É fundamental para o sucesso do tratamento o bom acolhimento dos pacientes nas unidades. Eles devem ser bem recebidos, sem julgamentos, para não aumentar sentimentos de medo e culpa", afirmou a infectologista.
Avaliando o evento, Marcia Santana, diretora do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs/Aids), trouxe suas expectativas de que o ensinamento que os profissionais receberam neste dia ajudará para a melhoria do serviço oferecido para a população: "Cumprimos a tarefa de olhar e pensar a epidemia de HIV/Aids pelo olhar dos seus atravessamentos socioculturais. Anunciamos a reflexão do problema entendendo que o avanço das tecnologias de assistência por si só não dão conta das complexidades dos sujeitos, que precisam ser entendido pelas determinações sociais que moldam seu modo de existir individual e coletivo".