Usuários da Saúde Mental do HPJ expõe no Museu Janete Costa
Desde terça-feira, 3 de dezembro, e até o dia 15, a exposição “Insanosano” pode ser conferida no Museu Janete Costa do Ingá junto com a mostra “Ceará, terra que ilumina”. Organizado pelo Núcleo de Atividade Coletiva (NAC) do Hospital Psiquiátrico de Jurujuba (HPJ), a “Insanosano” é a oportunidade dos usuários da Saúde Mental terem suas obras expostas ao grande público.
Esse orgulho de exibir sua arte era sentido por David John Sanders, um dos internados do HPJ que participa desse projeto intitulado Encontro de Artistas que estimula a criação cultural dos pacientes. David passou por algumas situações de surto, mas hoje é tratado pelo HPJ e se sente acolhido na unidade. Explicando suas obras expostas, nomeou uma de “black power de aurora boreal” por conta das cores e em outra contou a história indígena "A queda do céu" de Davi Kopenawa em que desenhou o xamã Yanomami que se ilumina após o céu deixar de cair por uma maldição. A pintura passou por várias mãos, por mais de dez usuários, que se revezaram no desenvolvimento em conjunto da obra.
“Com eu fui adotado por pais ingleses desenvolvi bem o inglês e hoje ensino para o Rafael Matos [artista também internado no HPJ] e em troca ele me dá dicas de como pintar”, relata, comprovando a integração e amizade que se forma nessa convivência e que ajuda a superar as adversidades. “Estar aqui nessa exposição é uma forma de trazer as coisas loucas para dentro do que não é, de confundir o que está aqui”, afirma, fazendo remeter a famosa frase de Chacrinha: “Eu vim para confundir, não para explicar”.
Surgido em 2017, essa já é a segunda exposição do Encontro de Artistas no Museu. “É uma maneira de estimular visitas de quem não costuma frequentar esse espaço”, diz Sueli Mendonça. Sueli é coordenadora do Inclua Nessa, que é esta iniciativa do Janete Costa de fazer trabalho social com parceiros como a Saúde Mental, Educação e outras áreas, na formação de novos públicos, de ir ao encontro dessas pessoas e estimular a realização de atividades artísticas. Esta união entre a Cultura e a Saúde culmina que toda última sexta-feira do mês, os usuários do HPJ realizam visitas ao Museu.
“Essas parcerias são fundamentais para nossos trabalhos. O NAC do HPJ conta com uma equipe comprometida que demanda de apoios. Realizamos também oficinas e bazares”, afirmou Clara Lobo, artista psicóloga da unidade que faz questão de ressaltar a ajuda da artista Lorena Portela nos ensinamentos que forneceu para os usuários nesse projeto.
O reflexo do uso da arte como melhoria do tratamento para os pacientes da Saúde Mental está refletida no caso de Carlos Frederico Ribeiro, que fez uma obra inspirada nos “animais fantásticos” da exposição principal do museu, a “Ceará, terra que ilumina” que vai até 29 de março. Quando entrou na unidade, Carlos mal conseguia falar e se movimentar. Sendo estimulado a pintar, a equipe do HPJ logo percebeu a melhora no seu comportamento. “É a certeza de que não há nenhum caso perdido. Exemplos como ele e o David são emocionantes, porque superam a visão que a sociedade tem de não acreditar nas potencialidades deles”, comemora Ara Nogueira, produtora cultural integrante da equipe do NAC.