No Dezembro Vermelho, as redes de saúde se atentam para a epidemia de HIV/AIDS e elaboram campanhas de prevenção e conscientização. Neste mote, já tradicional no calendário de eventos em saúde de Niterói, o Seminário da ReduSaids – Rede de Educação e Saúde para Prevenção das IST/AIDS – teve a sua 22ª edição em 13/12, no auditório do bloco P da Universidade Federal Fluminense (UFF) Gragoatá. Com uma programação extensa, que durou desde a manhã até o final da tarde, o encontro foi um troca de experiências enriquecedoras sobre o combate à epidemia com participações especiais.

Na abertura, o professor diretor do Instituto de Saúde Coletiva da UFF, Túlio Franco, saudou os presentes. “Parabéns pelo tema que vocês escolheram neste ano, é um foco muito acertado na juventude. Nós da Saúde Coletiva da UFF estamos à disposição de vocês, no que vocês quiserem mobilizar na universidade”, afirmou. O Seminário teve como tema este ano: “Juventude, Saúde e Prevenção: As Dimensões Sociais e Políticas do HIV/AIDS”.

Em seguida, Marcia Santana, coordenadora da ReduSaids, consolidou a ideia temática deste ano: “é justamente na perspectiva da solidariedade, comunidade e horizontalidade”. Segundo ela, é a exclusão e o preconceito o que mais matam quando se trata de HIV/AIDS.

Complementando, Maria Célia Vasconcelos, vice-presidente de Atenção Coletiva, Ambulatorial e da Família (VIPACAF) relacionou a importância da união com as escolas no combate às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs): “a gente tem que debater muito com a Secretária de Educação, com o grupo de Saúde na Escola; e estimular também a Secretaria Estadual de Saúde”, ressaltando também a importância de informar quem não está em eventos como este Seminário, para propagar as informações.

Ainda na abertura, Alex Gomes, presidente do Grupo Pela Vidda Niterói, ressaltou as complicações do HIV junto da tuberculose e alertou: “a gente tem muitos desafios, além de outras ISTs, temos que lutar mais e avançar contra o preconceito”, ainda que tenha reconhecido o avanço com métodos como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição).

Na mesa posterior, Juliana Reiche apresentou o trabalho realizado pelo CEDAPS – Centro de Promoção da Saúde, que incentiva diversas políticas públicas e relaciona as condições de vida e trabalho com a saúde. O projeto foca em regiões em vulnerabilidades, incentivando saídas inovadoras e solidárias em defesa do direito à saúde. Dentre suas ações, destacam-se o estímulo de lideranças/porta-voz da comunidade que atuam como produtores de saúde; a Rede de Comunidades Saudáveis; a Tecnologia Social Construção Compartilhada de Soluções Locais, envolvendo a educação popular de herança de Paulo Freire com a promoção de saúde; e estratégias de comunicação e sensibilização, com a produção de material educativo em textos, imagens, áudios, vídeos e redes sociais.

Na última mesa da manhã, Julio Nicodemos iniciou sua fala sobre o uso de sexo com drogas, o Chamsex/Sexo Químico. Especialista em Redução de Danos, Julio desmistificou o olhar moralista sobre as drogas, afirmando que existe um “pânico moral” sobre o tema, que acaba criando uma barreira de acesso ao SUS de pessoas que utilizam das mesmas. A relação do aumento de caso de pessoas com HIV com a redução do uso das drogas injetáveis foi citada, ainda que atualmente o uso tenha retornado com maior constância a partir da pandemia, em que grupos se reúnem para usar drogas e fazerem sexo por longos períodos, em um comportamento que pode ocasionar em uma despreocupação com o uso de preservativos.

Em seguida, Leonardo Aprígio, psicólogo voluntário do Grupo Pela Vidda RJ e Walter Sabino, ativista do Grupo Rede Jovem Rio+, trouxeram suas experiências na temática. “É triste ver um jovem hoje desenvolver um quadro de AIDS após tantos avanços, mas a culpa não é desse jovem. A culpa é da falta de comprometimento de muitos”, afirmou Walter em sua fala.

À tarde, a composição da mesa foi formada por Jorge Luiz Lima, da Escola de Enfermagem (UFF); Ana Vitória, acadêmica de Medicina (UFF) e Integrante do Projeto: Integração da Impressora 3D na Educação Sexual: Estratégias Inovadoras para a Promoção da Prevenção de Gravidez e de Saúde Reprodutiva; e Karen Fontoura, Acadêmica de Jornalismo (UFRJ) e Integrante do Projeto Rede Fala Rocinha e do Programa Jovens líderes da Rocinha. Segundo Jorge: “a informação deve chegar até as comunidades e jovens, superar o ‘tabu do sexo’, e evitar doenças preveníveis em interação com a comunidade e com as escolas”. O palestrante apresentou o aplicativo PREV-IST como parte do Espaço Aberto para Saúde, que apresenta tecnologias como essa para a prevenção de doenças e promoção de saúde.

Por fim, em mesa de fechamento, sobre o PrEP, trouxeram seus estudos: Débora Castanheira, coordenador do Projeto de Implementação de PrEP nos Ambulátórios Trans do Brasil/Fiocruz; Thenessi Matta, coordenadora da Área Técnica LGBT e enfermeira do Ambulatório Trans de Niterói; e Eliseu Lemos, Enfermeiro do Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Niterói. De acordo com Eliseu: “Os públicos que mais nos procuram são homens brancos cis que fazem a PrEP, mas a gente busca novos grupos, pensando em estratégias para que mais pessoas possam fazer as testagens, ainda que os números no município sejam bons”.

As unidades de Atenção Básica de Niterói garantem testes gratuitos, bem como a oferta de preservativos, PrEP e PEP, e as vacinas contra hepatite B e HPV. Cuidem-se!

Foto: Rudá Lemos